Estamos perante uma sociedade cujos consumidores se revelam cada vez mais informados e exigentes e, relativamente à procura de produtos e serviços turísticos não existe excepção. Assim, tendo em conta este cenário, a satisfação e supressão das suas expectativas deverá ser crescentemente encarada pelos industriais do sector, como um dos factores críticos de sucesso.
Vivem-se tempos de transformação, perspectivando-se a desburocratização de modelos e procedimentos e, com repetidos apelos à co-responsabilização ambiental. Teoricamente reforçam-se atitudes conducentes à certificação da oferta e ao correspondente aumento da qualidade.
A Certificação Ambiental e a atribuição de rótulos ecológicos, também denominados “Ecolabelling”, parecem revelar-se interessantes instrumentos de competitividade e de diferenciação no seio do mercado turístico. Podem também resultar num precioso apoio ao consumidor, conduzindo-o a escolhas de produtos e serviços menos nocivos para o ambiente.
Os padrões de certificação diferem consoante o tipo de programa a adoptar, contudo os benefícios são supostamente sempre positivos. As empresas são encorajadas a desenvolver respostas sustentáveis “em troca” de um logótipo assumido publicamente e representativo do compromisso da empresa para com os seus públicos.
Eis alguns aspectos reconhecidamente positivos:
Optimização dos processos tecnológicos; diminuição dos consumos específicos da energia das matérias-primas e dos recursos naturais; minimização do impacto ambiental provocado pelas actividades das empresas; incremento da imagem perante a opinião pública; acesso a mercados e concursos em que a certificação ambiental é obrigatória; melhor posicionamento competitivo face a concorrentes não certificados; organização interna mais sólida; acréscimo da motivação e envolvimento dos colaboradores internos; redução de riscos e de auditorias externas.
Refiram-se também prováveis dificuldades e obstáculos:
Pouco reconhecimento por parte do consumidor pode condicionar o interesse e envolvimento das empresas; algumas empresas na condição de líderes de mercado não sentem necessidade de aderir a um “ecolabel” para aumentar a sua reputação; dispersão geográfica, pouco enquadramento temático e com diversidade de certificações; incapacidade de cumprir determinados requisitos legais; resistência à sensibilização e formação interna com o objectivo de alteração de hábitos; formalização e celeridade nos licenciamentos.
Certificações, rótulos ecológicos e as actividades de turismo
Os rótulos ecológicos são considerados como parte de uma estratégia, assumidamente voluntária de gestão ambiental.
Segundo a International Standards Organization (ISO), o objectivo central dos rótulos ecológicos é a promoção da oferta de produtos e serviços que durante o seu ciclo de vida possam causar menor pressão sobre o ambiente.
Os produtos e serviços rotulados possuem um símbolo específico e muito característico, permitindo ao consumidor uma melhor identificação. Estes símbolos exigem uma gestão rígida e contínua dos critérios ambientais por parte de quem os possui, portanto, são atribuídos apenas aos melhores.
Para cada rótulo ecológico existe um conjunto predefinido de critérios de atribuição e são estabelecidos por uma autoridade para o grupo de produtos e serviços a que pertence.
Em Portugal existe um conjunto de entidades que regulam esta atribuição, é portanto da responsabilidade da Comissão de Selecção presidida pela Direcção Geral do Ambiente com representantes da Direcção Geral de Indústria, da Direcção Geral de saúde, da Direcção Geral do Comércio e do Instituto do Consumidor.
Sistema Comunitário de Atribuição dos Rótulos Ecológicos
No que diz respeito aos rótulos ecológicos no âmbito do turismo, foi criado e revisto pelo Regulamento (CE) um sistema comunitário de atribuição dos rótulos ecológicos que é um instrumento de natureza voluntária de reconhecimento de qualidade ambiental visando a concepção, produção, promoção, comercialização e utilização de produtos com um impacto ambiental reduzido providenciando aos consumidores melhor informação sobre a qualidade ambiental dos produtos.
Neste sistema a palavra “produto” é entendida como um bem ou serviço e, “consumidor” inclui os compradores profissionais. Diz-se portanto que um grupo de produtos é composto por determinados bens e serviços que tenham fins semelhantes e que sejam também iguais ou parecidos em termos da sua utilização e de percepção pelos consumidores.
As entidades que pretendam obter tal simbologia, terão que passar por um processo de atribuição implicando para tal a apresentação de uma candidatura ao organismo competente. Foram implementados alguns critérios ecológicos objectivando a atribuição do rótulo comunitário a cerca de 24 grupos de bens e serviços, dos quais, 2 são do sector do turismo, nomeadamente para serviços de alojamento turístico e parques de campismo.
A atribuição de rótulos ecológicos implica o cumprimento de um conjunto de critérios normativos, consagrados nas Decisões da Comissão nº 2003/287/CE, de 14 Abril de 2003, para os serviços de alojamento e nº 2005/338/CE, de 14 de Abril de 2005, para os parques de campismo.
Na óptica do turismo, os rótulos ecológicos comunitários, começam a constituir um elemento importante de qualificação dos serviços prestados.
Ecolabel – Rótulo Ecológico Europeu
Imagem 1 – Rotulo Ecológico Europeu
Esta certificação voluntária foi implementada em 1992 na União europeia com o objectivo de ajudar os consumidores a escolher produtos mais ecológicos, mais respeitadores do ambiente e de alta qualidade. A gestão é feita pelo Comité do Rótulo Ecológico da União Europeia (CREUE). Cobre o grupo de alojamentos turísticos segundo critérios apertados de:
Gestão sustentável da água; gestão sustentável da energia; utilização de recursos renováveis; utilização de produtos químicos não tóxicos; Informação aos clientes e comunicação ambiental.
Em Portugal existem 3 alojamentos turísticos com este tipo de certificação.
A certificação Green Globe International, Inc., é direccionada para empresas do sector do Turismo e viagens, estabelecendo regras para uma gestão que permita às empresas actuar de forma mais sustentável.
Green Globe
Imagem 2 – Green Globe
Tenta estimular a obtenção de benefícios ambientais, nomeadamente:
Redução da emissão de gases com efeito de estufa; energia, eficiência, conservação; gestão do consumo de água potável; protecção dos ecossistemas; desenvolvimento das comunidades, aspectos sociais e culturais; gestão e planeamento do uso do solo; qualidade do ar interior, controlo do ruído e efluentes; redução, reutilização e reciclagem de Resíduos.
Certificação Eco-Hotel
Imagem 3 – Certificação Eco-Hotel
Este sistema de certificação ambiental baseia-se nos referenciais ISO 14001 e EMAS. O modelo elimina alguma da burocracia associada aos sistemas de gestão ambiental tradicionais, e permite o acesso e manuseamento por parte de profissionais pouco familiarizados com as características das certificações Industriais.
Eco-Certification Step
Imagem 4 – Eco-Certification Step
O STEP (Sustainable Tourism Ecocertification Program) é um programa de certificação que foi desenvolvido por uma Organização sem fins lucrativos (Sustainable Travel International) com base nos Critérios Globais de Turismo Sustentável (Global Sustainable Tourism Criteria – GSTC).
Uma das principais vantagens é a sua aplicabilidade a qualquer empresa do sector turístico, independentemente das suas características.
A Certificação STEP inclui ainda uma modalidade de Certificação específica para Hotéis de Luxo (Luxury Eco Certification Standard – LECS). Esta tem em consideração as necessidades específicas e desafios das empresas que operam no mercado dos hotéis de luxo.
Programa Chave-Verde
Imagem 5 – Programa Chave Verde
O programa “Chave Verde” é um programa de educação ambiental de âmbito internacional e acolhe estruturas turísticas com uma visão sustentável procurando incentivar a mudança de comportamentos ao nível da gestão e da utilização dos recursos turísticos de cada região, como um caminho para o seu desenvolvimento.
Esta iniciativa da responsabilidade da Fundação para a Educação Ambiental foi lançada em Portugal, pela Associação Bandeira Azul da Europa, constituindo-se assim como um “Eco-Label” independente. Todos os anos a ABAE reconhece as unidades hoteleiras com práticas de gestão ambiental de sucesso, em prole de um Turismo Sustentável.
Em 2009 a Chave Verde atribuiu o seu galardão a 23 unidades hoteleiras portuguesas, que se distinguiram pelas suas práticas ambientais.
CertificaçãoLEED- Leadership in Energy and Environmental Design
Imagem 6 – Certificação LEED
O LEED é um sistema de certificação ambiental de edifícios desenvolvido pelo United States Green Building Council (USGBC) que fornece um conjunto de orientações para promover a construção sustentável. Desde o seu lançamento em 1994 tem vindo a crescer englobando actualmente cerca de 14.000 projectos em 30 países do mundo.
Certificação Breeam – Building Research Establishment Environmental Assessment Method
Imagem 7 – Certificação BREEAM
O BREEAM é o sistema de avaliação ambiental de edifícios mais utilizado à escala global, com mais de 110.000 edifícios certificados e mais de 500.000 registados no sistema.
Foi lançado em 1990 no Reino Unido pela BRE Global e consiste numa ferramenta de benchmark das melhores práticas ao nível do desenvolvimento de edifícios sustentáveis. Uma das principais vantagens do BREEAM é a possibilidade de ser utilizado fora do Reino Unido (para onde foi desenvolvido), pela facilidade de adaptação dos seus requisitos à legislação, regulamentos e condições locais.
Certificação Biosphere
Imagem 8 – Certificação Biosphere
A Certificação Biosphere é um sistema de certificação privado, voluntário e independente tendo o atractivo de não só estabelecer requisitos de qualidade, como por exemplo os exigidos pela ISSO 9001, ou sobre o meio ambiente, como é o caso da ISSO 14001, EMAS, etc. Mas também tem em conta outros requisitos de qualidade e do meio ambiente, incluindo requisitos de sustentabilidade, como a responsabilidade social, a conservação do património cultural, a satisfação e expectativa dos turistas sobre o destino, e o aumento da qualidade de vida da população local, etc.
Certificação Lider A – Sistema Português de Avaliação da Sustentabilidade
Imagem 9 – Certificação Líder A
É o sistema português de avaliação e reconhecimento voluntário da construção sustentável e do ambiente construído, nas diferentes fases do seu ciclo de vida (planos, projectos, obra e operação). O sistema permite a certificação, através de verificação por uma avaliação independente, servindo como instrumento de mercado distintivo para os empreendimentos que valorizem a sustentabilidade.
Apcer 3001 – TER – Turismo no Espaço Rural
Imagem 10 – Apcer 3001/TER
De forma a responder a um conjunto de questões específicas, no âmbito da actividade de Turismo no Espaço Rural, para as quais não se encontra a resposta nos referenciais normativos actuais, a APCER disponibiliza a especificação APCER 3001-TER. A certificação segundo a APCER 3001-Turismo no Espaço Rural evidencia um serviço de qualidade a todos os clientes, operadores turísticos, agências de viagens e a outras partes interessadas.
Esta especificação de requisitos de serviço define um modelo de qualificação para o Turismo no Espaço Rural, tendo por base a ISO 9001:2000, bem como outros referenciais normativos, adaptados ao TER, nas modalidades de cariz familiar – Turismo de Habitação, Agro-Turismo, Turismo Rural e Casas de Campo. Não estão incluídos Hotéis Rurais, Turismo de Aldeia e Parques de Campismo Rurais.
Considerações finais.
Um desenvolvimento sustentável pressupõe a preocupação não só com o presente mas com a qualidade de vida das gerações futuras, protegendo recursos vitais, incrementando factores de coesão social e equidade, garantindo um crescimento económico amigo do ambiente e das comunidades.
Esta visão integradora do desenvolvimento, harmonizando economia, sociedade e natureza, respeitando a biodiversidade e os recursos naturais, solidarizando gerações e co-responsabilizando países, constitui o pano de fundo das políticas internacionais e comunitárias de desenvolvimento sustentável que têm vindo a ser prosseguidas.
No sector turístico, empresas e clientes, apostam em produtos e serviços com menor impacto ambiental. Neste sentido o percurso de certificação e consequente obtenção de rótulos ecológicos pode permitir também alcançar algumas ajudas estatais (financiamento) e ainda que numa pequena percentagem, uma maior procura por parte de clientes com preocupações ambientais.
Crê-se que a certificação poderá ser encarada como resultado de um esforço de coordenação e sensibilização de todos os actores. Existe consciência de que alguns impactos provocados pelo sector turístico podem provocar danos ambientais irreparáveis. Assim sendo, aceita-se que um turista informado, consciente e sensibilizado poderá pressionar o mercado no sentido de desenvolver produtos e serviços mais sustentáveis.
Consequentemente a indústria do turismo poderá conduzir o legislador ao desenvolvimento de regulamentação e ferramentas de trabalho que permitam obter melhores resultados.
Fonte das imagens: Google Images
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