Dados do VIH em Portugal
São números alarmantes que representam um perigo, tanto para os infectados, quanto para os seus parceiros sexuais: em Portugal, mais de 60% dos diagnósticos de infecção por VIH são feitos tardiamente.
Os dados são do Núcleo de Estudos da Infeção ao VIH da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), que alerta para o facto destes diagnósticos tardios comprometerem a eficácia dos tratamentos, a qualidade de vida dos pacientes e limitam igualmente a eficácia do combate à disseminação da infecção.
Apesar de alarmantes, estes dados não serão exactamente surpreendentes, tendo em conta que a incidência do VIH em Portugal é de 13.1 afectados por cada 100 000 pessoas, fazendo do país o terceiro da União Europeia com mais casos de SIDA
Em Portugal, a infeção por VIH apresenta valores elevados em termos de prevalência e termos de incidência, sendo que ao nível de prevalência a proporção é de 1 infetado em 140 pessoas, e em termos de incidência é de 13.1 infectados por 100 000 pessoas. Complementarmente, além dos 5% de infectados na população, há que destacar que a percentagem de 60% de diagnósticos tardios representará aproximadamente o dobro da média europeia.
Para Telo Faria, Coordenador do Núcleo de Estudos da Infeção ao VIH (NEVIH) são necessárias mais “acções de educação, informação e prevenção em meio escolar”, além do incremento das acções de prevenção junto de grupos vulneráveis, em articulação com ONGs, considerando haver actualmente uma carência de campanhas dirigidas aos elementos mais vulneráveis da população.
Estes objectivos são no entanto prejudicados pela falta de meios, resultante da actual crise económica que o país ultrapassa, mas são sem dúvida de elevada prioridade pelo risco para a saúde pública e elevado peso económico que representam os diagnósticos tardios e as terapêuticas comprometidas.
Projecto Português procura cura genética
No lado da investigação para o combate ao VIH, Portugal continua activo, e um projecto nacional acaba de receber 100 mil Euros para desenvolver uma terapia genética pioneira ao longo dos próximos dois anos. Pedro Borrego, será o recipiente do Prémio Partnering for Cure Research Funding 2014, atribuído pela Bristol-Myers Squibb.
O projecto nacional procura controlar a progressão da infecção por VIH sem recurso a fármacos anti-retrovirais. Estes fármacos têm sido a maior esperança para uma qualidade de vida razoável para os pacientes infectados, mas nem todos os 35 milhões de indivíduos portadores de VIH têm condições para a sua ingestão. O maior problema é no entanto a capacidade de adaptação do vírus que pode mutar-se e incluir o seu ADN no genoma de diferentes tipos de células.
Em consequência, mesmo se todos os vírus activos tenham sido destruídos, se a medicação for interrompida, o material genético vírico ainda no corpo pode reacender a infecção. A medicação é por isso obrigatoriamente para toda a vida, aumentando a incidência de efeitos secundários profundos e o risco de surgimento de vírus resistentes.
A resposta do projecto Português é controlar a propagação do vírus e inutilizar o ADN viral escondido no organismo dos pacientes, através de terapia genética. Para o conseguir, Pedro Borrego projectou impedir a entrada do vírus nas células, colocando-as a produzir pequenas proteínas (péptidos) que se ligarão ao vírus e impedirão a sua entrada. Com essa finalidade, ARN será colocado nas células através de nanopartículas, onde poderão produzir os desejados péptidos.
A mesma solução será aplicada nas células infectadas com ADN viral, procurando criar-se um mecanismo através do qual o ARN poderá danificar esses resquícios genéticos de modo a não poderem voltar propagar a infecção. Embora a equipa reconheça a dificuldade de encontrar todos os reservatórios de vírus, tem confiança que a sua solução é superior à oferecida pelos anti-retrovirais, por não possuir os seus efeitos secundários.
DEIXE UM COMENTÁRIO