“És feio? Não tens experiência profissional? Queres dinheiro? Então tens futuro connosco!”
Eis o anúncio ao qual respondi em 2009; tinha eu uns 30 anos, estava de vez em Portugal (nasci e fui criada em França) e no desemprego de longa duração. Descobri a oferta de emprego junto do El Corte Inglés de Vila Nova de Gaia, não muito distante do meu centro de emprego, e logo pensei que já não era sem tempo para apostar numa nova orientação profissional. Nem que perdesse os meus direitos a um ano de exoneração de contribuições à Segurança Social e que passasse a ser daqueles infelizes obrigados a chatear os honestos reformados e donas de casa ao telefone.
Para que era esta oferta de emprego?
Acertei em cheio: a oferta de emprego tinha bem a ver com trabalhar em Telemarketing e deparei-me com uns quantos recém-vendedores por telefone, freelancers por necessidade. A aplicação no trabalho foi muita e a pontualidade, exemplar. Lá fora, amigos e familiares tentaram convencer-me de que não tinha a obrigação de continuar: tinha-lhes demonstrado que era capaz de encontrar uma “ocupação” e de me esforçar. Valeu-me a lição de que não convinha contar com eles: afinal, tinham empregos estáveis e nunca se ofereceram para introduzir-me nos seus círculos. Bem pelo contrário, apostaram que não passava de uma eterna irresponsável, dependente dos meus pais.
Mais tarde, de volta ao centro de emprego, até me fustigaram por ter aceite aquela oferta de emprego indigna do meu 12° ano com frequência universitária. Peço ao leitor que se ponha no meu lugar e não tardará em entender porque se qualifica a nossa sociedade de esquizofrénica. Enfim, foi o networking alimentado pelos meus colegas de galera que me permitiu encontrar mais estabilidade por conta de outrem numa start-up de vendas por telefone em francês, minha língua materna.
Para resumir: em cada disciplina, sempre houve um primeiro.
Conselhos para os desempregados:
1/ Arriscar: apostai em novas oportunidades nem que não tenham qualificação na área. Sempre poderão explicar o incidente de percurso no CV com a crise, ou até omitir o detalhe.
2/ Ter um comportamento profissional e veicular uma boa imagem pessoal. Sois os vossos RP (Relações públicas).
3/ Encontrai novas pessoas e partilhai com elas dicas e experiências. Divulgai novas saídas profissionais.
4/ Todos os caminhos levam para Roma. Projectai-vos daqui a 10-15 anos noutra área profissional. Será que afinal tem pontos comuns com os vossos interesses, objectos de estudo ou de formação.
5/ Roma não se fez num só dia. Não baixai os braços. Distanciai-vos de quem faz pouco (Afinal, que imagem veiculam deles próprios com os seus “a-prioris” e maneiras de julgar o outro?) Ninguém é imune ao desemprego, dêem oportunidade a novas ofertas de emprego.
6/ Networking. Networking. Networking. Que dizer mais?
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