“O FC Porto não é isto.”
Este é o pensamento que certamente tem assolado a mente da maior parte dos adeptos portistas, no decorrer desta época. E justificadamente. O futebol actual dos dragões é paupérrimo: pouco intenso, sem ideias e desconjuntado. Os jogadores parecem não dar tudo o que têm, faltando-lhes garra, motivação e o espírito de vitória e conquista tão característico da equipa do Porto. O treinador, Paulo Fonseca, continua a não justificar a opção de Pinto da Costa, insistindo num esquema táctico até agora infrutífero e mesmo prejudicial para a equipa, e mantendo um discurso que não se coaduna com as prestações dos campeões nacionais na presente temporada.
Estando ainda em prova na Taça da Liga, na Taça de Portugal e na Liga Europa, com a liderança do Campeonato a apenas três pontos de distância e tendo já conquistado a Supertaça Cândido de Oliveira, o FC Porto vê-se ainda com a possibilidade de realizar uma boa época no que a títulos diz respeito. Contudo, para isso, algo terá obrigatoriamente de mudar no Dragão, nesta segunda metade da época. Mas que alterações podem ser feitas nesta altura? Passará a solução pela troca de treinador? Por um lado, talvez: a chegada de um novo técnico normalmente gera uma renovação da motivação no plantel que, aliada a eventuais bons resultados, pode solucionar ou atenuar o problema. Porém, o segundo treinador pode não conseguir recuperar a equipa ou até tentar implementar um plano de jogo ainda mais inadequado do que o do seu antecessor. Além disso, o despedimento de um treinador faz sempre passar para o exterior a ideia de uma certa instabilidade existente no seio do clube, algo que Pinto da Costa certamente não deseja. Assim, partindo do princípio de que Paulo Fonseca irá permanecer nos dragões até ao fim da presente temporada, as mudanças terão de passar pela constituição do plantel (tanto a nível de entradas, como de saídas), pelo esquema táctico a utilizar e pelo próprio “onze base” da equipa. Analise-se, então, posição a posição, o plantel do FC Porto:
Guarda-redes – Tendo em conta que o jovem Kadú tem passado grande parte da época na equipa B, a adquirir experiência, o plantel principal dos dragões tem, neste momento, apenas dois guarda-redes: Helton e Fabiano. O turco Bolat acabou por sair por empréstimo sem realizar qualquer jogo oficial pela equipa A e o porquê da sua contratação continua a ser uma incógnita. Quanto a Fabiano, nas partidas em que participou, já demonstrou ter a qualidade necessária para ser o guardião do clube azul e branco, sobretudo no recente jogo contra o Sporting. A confiança dos adeptos em Helton é, ainda, muito forte e ninguém se esqueceu do que o brasileiro já deu ao FC Porto; no entanto, à semelhança do que aconteceu com Vítor Baía, talvez esteja na altura de proceder à passagem de testemunho.
Defesas Centrais – São quatro os defesas centrais que actualmente se encontram nos quadros principais do clube: Mangala, Otamendi, Maicon e Reyes. O mexicano teve ainda poucas oportunidades de se mostrar, estando neste momento a passar por um processo de adaptação e crescimento por que muitos jovens passam no FC Porto. É bastante evidente que se trata de uma aposta para o futuro. No que diz respeito a Mangala, também ainda muito jovem, não há muitas dúvidas de que se trata do melhor central do FC Porto e de um dos melhores da Liga Portuguesa. Ainda se encontra em fase de crescimento e, portanto, tem de continuar a jogar para diminuir o número de erros que tem vindo a cometer no decorrer da época. Otamendi, por sua vez, tem sido indiscutivelmente um dos piores da temporada, estando em fim de ciclo na equipa portista: o mais aconselhável seria vendê-lo nesta janela de transferências, dando definitivamente a titularidade a Maicon que, apesar de ser, por vezes, algo trapalhão, é um dos atletas que ainda joga com a garra e motivação de outros tempos. Finalmente, com a saída do argentino, abrir-se-ia uma vaga no centro da defesa, que poderia perfeitamente ser preenchida, por exemplo, por Tiago Ferreira da equipa B. Não é um jogador brilhante, longe disso, mas está mais do que na hora de o FC Porto começar a apostar nos seus jovens portugueses.
Defesas Laterais – Com o afastamento de Fucile do plantel, são apenas dois os laterais do FC Porto: Danilo e Alex Sandro. Ambos têm estado muito abaixo daquilo que podem e sabem fazer (sobretudo Danilo, a nível defensivo), muito por culpa do facto de não terem qualquer concorrência interna. Os dois brasileiros são jogadores de qualidade acima da média, apesar de ainda terem muito que melhorar, mas necessitam de competitividade nos treinos e de descanso em alguns jogos. A promoção do colombiano Quiñones à equipa A (já lá esteve meia época, com Vítor Pereira, e tem actuado a bom nível na Segunda Liga) e a adaptação de Ricardo a lateral direito (algo que Paulo Fonseca já testou duas vezes) são as soluções mais simples e evidentes.
Médios – A dinâmica do meio campo do FC Porto é, neste momento, um dos principais problemas da equipa nortenha. A saída de Moutinho (um dos melhores médios do Mundo), a insistência do treinador num sistema que, aparentemente, não se adequa aos jogadores disponíveis e a indefinição dos três titulares explicam praticamente tudo. Paulo Fonseca deveria desistir do tal” triângulo invertido” e voltar a apostar no triângulo que tem dado títulos ao FC Porto; provavelmente, só a partir desse momento é que os restantes problemas podem começar a ser resolvidos. No que diz respeito aos jogadores, com a súbita saída de Lucho, são agora seis os disponíveis na equipa principal: Fernando, Defour, Herrera, Josué, Carlos Eduardo e Quintero. O trinco brasileiro é o único que tem justificado a titularidade indiscutível, sendo um dos poucos que tem mantido o nível exibicional de épocas anteriores. Carlos Eduardo já demonstrou ter uma qualidade técnica acima da média e uma fantástica visão de jogo e, portanto, é o lógico dono da posição de médio mais ofensivo da equipa (apesar das recentes prestações, que têm sido mais discretas). A posição sobrante é a que, provavelmente, suscita mais dúvidas. Juan Quintero ainda é muito jovem, faltando-lhe alguma experiência e maturidade; a ser utilizado, só faz sentido que o seja no lugar de Carlos Eduardo. Assim, restam três opções: um belga, um mexicano e um português. Defour já mostrou ser bom jogador, sendo até titular na fenomenal Selecção da Bélgica, mas falta-lhe algo: quando joga, não parece acrescentar muito à equipa. Herrera tarda em corresponder às expectativas criadas aquando da sua contratação: qualidade parece tê-la, mas joga de forma demasiado lenta e denunciada. Falta ainda referir Josué, que tem sido sistematicamente utilizado fora da sua posição, influenciando negativamente a qualidade das suas exibições. Tratando-se de um jogador formado no clube, com potencial para melhorar significativamente, justifica-se dar-lhe mais oportunidades na sua posição de origem. Terá apenas de controlar a sua agressividade excessiva, que lhe pode custar castigos disciplinares desnecessários.
Extremos – Assumindo que o jovem internacional Sub-21 Ricardo passará, então, a ser utilizado como lateral direito, e ainda que Izmaylov não voltará à equipa tão cedo, Paulo Fonseca dispõe, presentemente, de quatro extremos: Varela, Licá, Kelvin e Quaresma. A inconstância do primeiro, a falta de criatividade do segundo, a pouca maturidade e experiência do terceiro e a forma física preocupante do último ajudam a explicar a ausência de propensão ofensiva que a equipa portista tem evidenciado, bem como as dificuldades que o treinador enfrenta na escolha dos dois extremos titulares. Apesar das já referidas exibições tremendamente inconstantes, Varela parece ser o único dos quatro com lugar assegurado, tendo a seu favor os já muitos anos de casa. A segunda vaga tem pertencido a Licá que, no entanto, não tem justificado as oportunidades concedidas. É muito útil a defender mas oferece muito poucas soluções no ataque, sendo bastante previsível. Quaresma, pelo que se viu na Luz, não parece estar ainda nas condições físicas ideais (voltará algum dia a estar?), não sendo aconselhável dar-lhe a titularidade sem provar que, de facto, a merece. Sobra Kelvin que, apesar da tenra idade, já deu um Campeonato ao clube. Falta-lhe ainda alguma capacidade para definir melhor as jogadas, quando a bola lhe chega aos pés; todavia, quando entra em jogo (algo que, durante a época, ainda não aconteceu muitas vezes), consegue agitá-lo, não tendo receio de partir para cima dos defesas contrários. Com base nisto, não ficaria mal a Paulo Fonseca testar o brasileiro a titular, esperando que a sua inclusão na equipa inicial traga a imprevisibilidade e explosão que têm faltado ao ataque do FC Porto. Finalmente, refira-se ainda o jovem português Tozé, que se tem exibido a bom nível na equipa B e que, presumivelmente, já merecia, no mínimo, uma convocatória ao plantel principal.
Avançados – São apenas dois os pontas-de-lança de que a equipa A dos dragões dispõe neste momento: Jackson e Ghilas. O argelino pouco tem jogado e, quando o fez, não mostrou muita coisa. No entanto, entra em jogo quase sempre a cinco minutos do fim, o que não é suficiente para mostrar aquilo que realmente vale. Jackson é bem melhor e apresenta um registo goleador respeitável na presente época (20 golos); contudo, dando mais tempo de jogo a Ghilas, o colombiano teria mais tempo de descanso e, possivelmente, sentir-se-ia na obrigação de fazer ainda mais para eventualmente não perder o lugar. Quem também já justifica uma chamada aos treinos da equipa A é o português André Silva, que tem demonstrado um enorme potencial e que poderia crescer bastante através da convivência com jogadores mais experientes.
Nada está perdido. Mas tudo está também muito longe de ser ganho.
É urgente mudar, pelo menos no que diz respeito aos lastimáveis índices de entrega e ambição até agora verificados nos jogos, por parte da equipa.
Marco Cruz says
Excelente análise à actual situação do FCP. Certamente não faz sentido mudar de treinador neste momento, pois não é da filosofia de Pinto da Costa mudar a meio da época. Quanto ao onze que deve atacar o resto da época, provavelmente o melhor será: Helton; Danilo, Maicon, Mangala, Alex Sandro; Fernando, Defour e Carlos Eduardo; Varela, Quaresma e Jackson. É o onze mais consistente de momento..
Cumprimentos!