Sabia que falar sozinho é bom? Pois!
E com isto tira-se algum peso de cima de muitas pessoas não é?
Não sei quanto aos que estão a ler isto, se costumam falar sozinhos ou não, mas eu e a Maria já o fazemos há anos!!! E muitos!!! Para quem é filho único, é quase impossível não o fazer…
E… se quem está a ler este texto, também já se deu conta que volta e meia fala sozinho, fique a saber que não… não está maluco(a). Pronto. Quanto a isso estamos conversados.
Ah! Mas querem saber porquê não é?
Pois bem, segundo alguns estudos feitos nos Estados Unidos (onde parece que se preocuparam com a situação… Vá-se lá saber porquê, mas aqueles meninos pensam em tudo…), falar consigo próprio em voz alta, é importante para as crianças porque faz com que se concentrem melhor nas tarefas que estão a realizar. Elas muitas vezes falam em voz alta, a cada passo que dão, para orientarem as suas acções.
Ora se há coisa de que me lembro, é da Maria, que falava sozinha em “piquena” e se chateava com a mãe porque a marota se ria imenso com isso!
A sacaninha da sua mamã, punha-se a ouvir atrás da porta do quarto da filha enquanto esta brincava “às escolas”.
Ou seja, a Maria chegava a casa do colégio (sim, na altura éramos meninas… ou betinhas, como preferirem…) e enquanto alguém tratava do jantar (podia ser o pai, a mãe ou a avó), ela ia para a brincadeira.
Como não tinha irmãos e àquela hora, a Maria já não podia sair ou receber amigos em casa… que remédio tinha ela, senão falar sozinha! Enfiava-se no quarto, distribuía os cadernos e as canetas pelos “lugares” da sua cama e sabia bem quem era quem!…”Hum…Bom, bom!”
Ela… claro, era a professora!
Colocava o quadro de ardósia junto de si e começava a escrever com o seu adorado giz e a explicar aos seus alunos a matéria do dia. Esta, não era nem mais nem menos, do que a matéria que tinha dado nas aulas de verdade umas horas antes…
Ah, mas antes perguntava sempre pelos tpc”s!… que naquela época tinham outro nome. E a Maria dizia assim: “menina Marta, os trabalhos?”
E entrava o silêncio…
A Maria “ouvia” a resposta e retorquia: “porque é que não fez? Desculpe lá, mas eu não tenho culpa que ande nos ensaios para o “Sequim D”ouro! Tem que dizer à mãe para vir falar comigo!”
Eu explico: O Sequim… era um género de Festival da Canção com miúdos, cuja final era sempre em Itália. Um evento muito importante, na época!
… E a Maria lá seguia com a aula: “pchtt! Luís vá-se lá sentar! O que anda a fazer de pé? Aiaiaiai!”
Depois… se ela tivesse que se ausentar para ir ao WC, era a confusão total!…
…E pelo caminho esbarrava com a mãe atrás da porta do quarto, morta de riso!
Ui! O que isso a deixava chateada, ninguém imagina!
Mas o que é facto, é que aquele resumo do dia nos devia realmente fazer muito bem (como dizem os entendidos na matéria), porque eu também o fazia (fui eu que lhe ensinei, claro!) e a nossa avaliação escolar era bastante boa!
Entretanto e recentemente, os psicólogos Gary Lupyan e Daniel Swingley quiseram saber se isto funciona também com os adultos. Eles já tinham observado que muita gente murmura sozinha enquanto está à procura de algo – um pacote de margarina numa prateleira de supermercado, aquele bocado de fiambre no frigorífico… Quem nunca o fez? Pensem bem…
Então, eles fizeram experiências para descobrir se a coisa realmente funciona e o resultado foi publicado o ano passado (2012).
Os voluntários viram 20 fotos de vários objectos e tinham de encontrar um em particular. Eles recebiam um texto com o que deviam encontrar e deviam fazê-lo em silêncio. Noutras vezes, esses mesmos voluntários tinham que procurar o objecto enquanto repetiam o nome dele para si próprios. Resultado: quando falavam sozinhos, os voluntários encontravam os objectos mais depressa!
Houve outras experiências do género e assim se provou que murmurar o nome do objecto durante a procura, ajuda a encontrá-lo – mas só nos casos em que se trata de uma palavra conhecida (atenção!).
E o que é que isto quer dizer? Que se a palavra “rubicundo”[1] não lhe é familiar, não serve de nada dizê-la! Onde é que vai encontrar algo rubicundo, se não sabe o que isso é?
Mas, se por outro lado, sabe que os limões são amarelos e têm determinado formato, ao dizer a palavra limão, essas propriedades visuais no seu cérebro aparecem e ajudam a encontrá-lo.
Agora resta saber, se o facto de eu falar sozinha quando estou chateada com alguma situação, também me faz bem. Eu tenho para mim, que sim. É que depois dessa “converseta” que tenho comigo própria pela casa fora, passa-me a vontade de falar mais no assunto e até chego a pensar que aquilo é algo ridículo… no dia seguinte!
Bem… e se calhar é por isso que a minha vizinha não vai com a minha cara… Se calhar, vai-se a ver e afinal é porque eu falo sozinha pela casa fora e pouco falo com ela. E como é senhora, daquelas à moda antiga, deve pensar que tenho sempre a casa cheia de gente, o que para uma mulher solteira, parece mal aos seus olhos, não é?
Mas não há remédio: já em casa dos meus pais eu fazia o mesmo, desde criança e depois em adolescente.
Um dia foi lá a minha vizinha do lado (outra vizinha, outro prédio). Ela tinha mais quatro anos do que eu e isso naquela altura…notava-se. Pois. Uma com 14 anos e outra com 18… estão a ver?
Ora… ouvi baterem à porta com muita força. Quem era? A minha amiga de infância, com quem fui criada, mas cuja diferença de idades era, naquele dia, muito visível.
Abri… e ela entrou-me pela casa a dentro, a abrir portas, à procura de algo atrás dos móveis, debaixo das camas… e às tantas, pergunto eu: “mas o que foi? estás à procura do quê?”
E ela responde-me, furiosa: “quem é que tens aqui em casa? Olha que vou dizer à tua mãe, que não tens idade para isto!”
Pois… não tinha. E também não tinha lá ninguém!
Era “euzinha” que estava a falar sozinha… com uma colega com quem me tinha chateado de manhã! Estava a discutir com ela, posso? Com licença…
A minha amiga saiu, mas desconfiada…
Se isso é bom (falar sozinha)? Sim, posso constatar que traz vantagens! Tenho evitado muitas chatices e parvoíces, que de outra forma, iriam ser aborrecidas. Mais facilmente entendo aquilo que devo ou não dizer, por vezes nem digo… e noutras, melhoro o meu discurso! …
E a minha amiga Maria tem a mesma opinião.
Os estudos lá constatam realidades…
[1] Avermelhado. Por exemplo: uma pessoa de faces rubicundas = uma pessoa de faces rosadas

Olá jovem senhora provavelmente portuguesa, parabéns por este blog muito interessante, gostas de escrever como eu, escrever é realmente incrível! Do nada, enquanto eu estava a pesquisar sobre falar sozinho (o que eu obviamente faço toda hora) vi este artigo e achei o teu blog muito instrutivo e bacana*. Tenho 16, e amo escrever, por isto quero ter um blog também, é uma ideia que não faço funcionar há anos, queria que V.S.ª escrevesse um artigo sobre como é ter um blog, e como consegue ter ideias novas para escrever. Agradeço muito pela atenção 🙂
-De um inexperiente jovem brasileiro.
* bacana=legal, maneiro, bom, interessante.