O Homem tem a capacidade para aprender em qualquer idade e em diversas situações (por exemplo através de educação não formal) desde que isso seja realmente importante para si e para o seu futuro. Esta “capacidade de aprender dos indivíduos resulta da necessidade de responder aos desafios e imprevistos que a vida quotidiana coloca, o que torna o processo de aprendizagem fundamental” (Dominicé, 1996, p.101 cit. in Cavaco, 2002).
A aprendizagem experiencial

Rui Canário (2006) refere que a aprendizagem experiencial faz parte de um dos vários processos de aprendizagem que ocorrem ao longo da vida. A formação experiencial é uma forma das pessoas se formarem por si próprias, com recurso aos vários contextos em que se inserem, adquirindo competências indispensáveis à sua subsistência na sociedade onde se encontram integradas quer a nível profissional, familiar e social. Os vários processos de aprendizagem que ocorrem ao longo da vida de um indivíduo não são passíveis de separação pelo que é mais indicado “englobar as situações educativas não formais e informais no conceito de educação não formal” (Canário, 2006,p.160). Esta aprendizagem começou a ser valorizada e reconhecida pelo Estado Português dando origem às políticas nacionais actuais como é o exemplo da iniciativa Novas Oportunidades, que consiste no reconhecimento e validação de adquiridos experienciais das pessoas que possuem experiência profissional.
A aprendizagem experiencial resulta de um processo de aglutinação e transformação de experiências adquiridas e acumuladas pelo indivíduo em novas aprendizagens. É um processo através do qual os conhecimentos resultam da transformação da experiência acumulada, pois “as novas experiências são assimiladas às experiências do passado e transformadas por elas” (Chené e Theil,1991, p.202 ,cit. in Cavaco, 2002, p.36). Esta forma de aprendizagem actua não só a nível dos conhecimentos que a pessoa adquire e da maneira de executar tarefas mas também transforma o seu modo de pensar e de estar em sociedade. Ou seja, “no processo de aquisição de conhecimentos por via experiencial não se adquire unicamente saber-fazer, mas também saber-ser, ou seja, efectuam-se aprendizagens dos domínios psicomotor, cognitivo, afectivo e social” (Cavaco, 2002,p.33).
Para que a aprendizagem experiencial, tipo de educação não formal, seja consciente para o indivíduo, é necessário que este reflicta sobre aquilo que aprendeu, como aprendeu, que dificuldades sentiu, que estratégias utilizou para as conseguir superar e como poderá aplicar esses conhecimentos em situações futuras. O processo de formação experiencial implica um grande esforço e investimento pessoal pois é necessário recorrer à reflexão para que os conhecimentos que adquiriu anteriormente sejam mobilizados e transformados em novas competências. Para Dominicé (1988) é necessário um grande investimento global e a mobilização de todas as aprendizagens feitas anteriormente, ou seja “os saberes anteriores são mobilizados na aquisição de novos saberes…” (Cavaco, 2002, p.113).
O indivíduo só fica experiente em determinadas funções se praticar e reflectir sobre o que aprendeu e praticou de modo a poder transformar esses saberes em experiência. A aquisição de competências por parte dos adultos só pode ser possível através da mobilização das aprendizagens que este adulto fez ao longo da sua vida, nos vários contextos em que se insere, nomeadamente no familiar, profissional e social, e consequente reflexão sobre as suas aprendizagens. “A prática e a reflexão são dois elementos fundamentais na experiência ” (Cavaco, 2002, p.34).
A formação experiencial, de acordo com o discurso de Landry, (1989, p.17 cit. Cavaco, 2002), implica reflexão por parte do indivíduo, pois esta não se limita apenas à experiência e às situações experienciadas pelo sujeito. É necessário que o sujeito seja capaz de reflectir sobre determinada experiência e que consiga adaptar e integrar a aprendizagem que realizou em situações futuras (sendo visto como educação não formal) Dominicé (1989) diz ainda que quanto mais ricas e diversas forem as situações experienciadas pelo adulto, mais rica e diversa é a formação por via da experiência que este adquire.
Nem todas as experiências resultam em aprendizagem pois apenas as que originam alterações permanentes poderão ser consideradas formativas no entanto as próprias experiências apresentam um grande potencial formativo mas o sujeito para se formar por via da experiência necessita reflectir sobre os seus actos, sobre as suas vivências e sobre a sua interacção com o meio em que se insere. “As experiências de vida para se tornarem formativas têm de ser reflectidas” (Cavaco,p.34).
A educação não formal

Para Rui Canário (2006) grande parte das aprendizagens feitas pelo indivíduo não acontece na escola. Para este autor “a aprendizagem de coisas que não são ensinadas, ou seja que não obedecem aos requisitos do modelo escolar, corresponde ao que de uma forma genérica se pode designar por educação não formal.” (p.160)
Estas ideias constituem os pressupostos basilares da educação de adultos em que a experiência que o indivíduo acumulou lhe vai permitir realizar novas aprendizagens. Para fundamentar estas premissas Canário (2006) distingue aquilo a que ele denomina de “pilares teóricos essenciais” e que são a “revalorização epistemológica da experiência”; a “definição de situações educativas pelos seus efeitos e não pela sua intencionalidade”; e a “assimilação do processo de aprendizagem a uma concepção larga, multiforme e permanente de socialização” (p.162).
Considerando que a maior parte das aprendizagens feitas pelos adultos são de carácter experiencial e realizadas através da educação não formal, Pain (1990, cit. in Canário, 2006) conclui que é necessário definir políticas de educação adequadas aos meios onde as pessoas são inseridas e que a educação não formal deveria adquirir uma maior importância, visto que esta representa a maior parte dos processos educativos a que as pessoas estão sujeitas ao longo da sua vida, dando à educação formal um papel de complemento dos processos educativos não formais (Canário, 2006,164).
Os adultos adquirem saberes ao longo da sua vida, através de processos de educação não formal, informal e formal. Lesne e Minvielle (cit. in Canário, 2006) consideram que a formação é um conjunto de interacções diárias do indivíduo com o meio onde trabalha e que fazem parte de um processo de socialização. Os projectos de formação em alternância surgiram da ideia de aliar a acção de formação com a acção socializadora das empresas. Para Canário (2006), “conceber a formação profissional como coincidente com o processo de socialização profissional permitiu a redescoberta das organizações de trabalho como contextos privilegiados de aprendizagem” (p.165).
Na linha de pensamento do anteriormente referido, Cármen Cavaco (2002), afirma que a formação experiencial ocorre do contacto directo do indivíduo com o meio, do qual resultam aprendizagens que o indivíduo irá mobilizar para a sua vida futura (p.33). A autora reforça ainda que o contexto profissional é o contexto por excelência da aprendizagem não só porque a pessoas passa a maior parte da sua vida neste local, como também é no local de trabalho que tem que dominar competências necessárias para desempenhar as tarefas inerentes às suas funções. É ainda no local de trabalho que o indivíduo está em contacto com pessoas que por trabalharem no mesmo local partilham as normas da empresa e também outros saberes na mesma área de actuação. A formação experiencial “apresenta-se, nestes casos, como estratégia de inserção e de sobrevivência dos indivíduos no funcionamento das organizações onde estão inseridos” (p.40).
O processo de formação do homem

Para Cavaco (2002) o processo de formação do homem é um processo inacabado, como diz Canário, é um continuum que ocorre ao longo de toda a vida deste. O facto de se ter concluído que o processo de formação formal apenas abrange uma parte da vida do sujeito, passou a ser dada maior importância aos processos de educação não formal e informal no entanto só articulando estas três modalidades se pode encarar o potencial formativo de cada contexto como cumulativo no desenvolvimento de cada indivíduo.
CANÁRIO, Rui (2006). Aprender sem ser ensinado. A importância estratégica da educação não formal. In Conselho Nacional de Educação. A Educação em Portugal (1986-2006). Alguns contributos de investigação. Lisboa: Conselho Nacional de Educação.
CAVACO, Carmen (2002). Aprender fora da escola – Percursos de Formação Experiencial. Lisboa: Educa
Artigo muito bom. Parabéns, Continuação de bom trabalho.