A filosofia Lean como gestão foca-se na redução, senão eliminação, de desperdícios através de análise contínua, produção e controlo de falhas, com vista à melhoria da qualidade e do tempo e diminuição dos custos de produção. Cada vez mais peça fundamental para a sustentabilidade das empresas tem vindo a ocorrer um fenómeno interessante: o número crescente de ambientes onde Lean pode ser aplicado e originando novas designações como Lean-Office, Lean-Sigma ou Lean-Health. O mais importante a reter é a ideia de que Lean é um processo de todos os dias, contínuo, cultura da empresa e de todos os colaboradores – o que significa que não beber desta filosofia implica, a médio prazo, perda de competitividade, redução de importância no mercado e, consequência última, desaparecimento.
E na sua gestão doméstica, já experimentou pensar Lean?
Também na gestão doméstica, na nossa casa, onde por debaixo do telhado mora o corpo e por dentro deste mora a alma, aplicar esta filosofia poderá trazer benefícios e ajudar a transformar custos de oportunidade em optimização da qualidade de vida da família em geral e de cada interveniente em particular – ou pensava que a sua casa não era a empresa mais difícil do mundo de gerir?
a) qualidade total imediata: procurar o “zero defeito” – não no sentido de não usar a louça para a não partir mas detectando e solucionando os problemas na sua origem. Procurar a prevenção em detrimento da correcção é um óptimo princípio de gestão doméstica. É Lean.
b) minimização do desperdício: eliminar tudo o que não tem valor agregado nem redes de segurança, pela optimização do uso dos recursos escassos (capital, pessoas e espaço) – prefere jantar fora amiúde com os colegas de trabalho ou fazer desse momento que é o recanto da mesa um oásis de afecto – e de poupança – naquilo que deve ser um lar? É Lean.
c) melhoria contínua: reduzir custos, melhorar a qualidade, aumentar a produtividade e compartilhar informação. Não lhe parece bem fazer serões de sábado à noite na sua sala, com amigos, estimulando o convívio pela conversa e, desta feita, a produção de afectos? É Lean.
d) processos “pull”: será o cliente final a retirar o produto, na vida somos todos clientes e fornecedores, este não é adiado nem atirado para o fim do processo produtivo como um fardo. Tarefas. Se cada interveniente da família tiver um papel activo na afectação de tarefas não há acumulação de lixo nem atrasos nos pagamentos nem, tensões mal geridas, discussões. É Lean.
e) flexibilidade: produzir grande variedade de produtos, sem comprometer a eficiência devido a volumes menores de produção. Não somos todos iguais e, por isso, se cada um der o seu máximo na gestão doméstica todos os dias, hoje, poderá dar-se ao luxo de ir ao cinema – ou deixar de lavar a roupa – amanhã sem comprometer, gestão doméstica “leanificada”, a casa. É Lean.
f) construir e manter uma relação a longo prazo com os fornecedores, fazendo acordos para compartilhar o risco, os custos e a informação. Não é para isso, ou deveria ser, que as pessoas decidem viver juntas – para cultivarem os laços e se apoiarem no melhor e no pior? É Lean.
Agora que está tudo racionalizadinho, gestão doméstica em Lean-Home, é deixar as emoções fazerem-se ouvir. mistura-se tudo, com colher de pau, à moda antiga, rapa-se com o salazar para não haver desperdício de ingredientes, e mete-se no forno a uma temperatura suficientemente quente – não exagerada para não queimar por fora e encruar por dentro – e já está: a água cresce na boca da vida. E a vida, ah pois, é para ser trincada e mastigada e engolida e depois…, depois da assimilação do bom vem a libertação, e limpeza, do mau.
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