Numa qualquer sociedade, é comum aplicar a sátira para denunciar métodos de procedimento na vida social e, de sobremaneira, na vertente política-partidária.
A sátira é capaz de ser o veículo mais acessível para se criticar a vida e os costumes das pessoas. E é no dia-a-dia de cada um, no criticar, no falar da vida alheia que, porventura, assenta o bem-estar de alguns seres humanos, esquecendo, quiçá, as suas próprias e legítimas fraquezas.
Sucede isto, por exemplo, entre as diversas facções política-partidárias. O militante de um qualquer partido político, quando procura elementos de censura para atingir o Partido que se lhe opõe, recorre precisamente a valores e factos que o seu próprio Partido aplica e (ab)usa na sua caminhada.
Numa vitória eleitoral, os militantes e apoiantes da força política vencedora, gritam vitoriosos não só por terem vencido a corrida eleitoral, mas também por terem derrotado os seus mais directos opositores.
É quase na derrota dos outros que incide a glória maior. Apesar de se reconhecer todos os pontos de conduta menos favoráveis no vencedor.
Isto acontece também nas vertentes social e humana. A sátira em sociedade conduz a um estado de graça da vida de quem dela se serve para atingir, crua e cinicamente, quem se lhe opor ou lhe incomodar o caminho.
O frenesim do quotidiano, o querer ser e ter mais e melhor, a procura incessante não se sabe bem do quê, levam o ser humano a um estado de ostracismo, fazendo-o esquecer que a sátira da vida está na partilha de bens, sentimentos e conhecimento, no respeito e aceitação mútuos e na reciprocidade de nobres valores sociais e humanos.
Fazer uso da sátira deveria ser um exercício sério de cidadania, uma ferramenta de informação capaz de educar, socializar e alcançar uma ampla camada da sociedade. Olhar para o nosso semelhante como tal, igual nas diferenças, igual no sentir. A vida sem sátira seria como um Cozido à Portuguesa sem enchidos. Sem graça.
Mas fazer um correcto uso dos recursos que ela nos oferece, contribui para um resultado final que a todos deverá respeitar.
Porque vida sem respeito, cordialidade, partilha e reciprocidade de conhecimento seria uma vida sem estatuto. E que se dê à vida toda a sátira que ela nos merecer.
DEIXE UM COMENTÁRIO